“Este é o Fernandinho. Não sei que idade tem, mas sei que são muitos os seus anos de sofrimento, de desgraça e de infelicidade”, começou por escrever Jorge Leitão no Facebook.
Fernando Manuel da Silva Afonso é adicto ao álcool e vive nas ruas há mais de 20 anos. Segundo o POSTAL apurou, tem 59 anos. Em tempos, foi pasteleiro no hotel Atlantis em Vilamoura, mas hoje não tem um teto onde morar.
Foi entre palavras de alerta e sensibilização, com sabor agridoce, que Jorge Leitão alertou para uma problemática social, que muito se tenta ignorar: os sem-abrigo. “Devemos sentir uma profunda vergonha por vivermos numa sociedade que permite a existência de pessoas totalmente abandonadas e que tanto sofrem, como o Fernandinho”, pode ler-se na publicação.
São vários os comentários de indignação perante a regularidade de situações como esta, mas ainda se contam mais, aqueles que já ajudaram e continuam a ajudar o Fernandinho. “Conheço bem! Há pouco tempo estive a falar com ele! Tinha saído do Hospital onde esteve internado por atropelamento e fugiram. Já o trouxe a minha casa para tomar banho! Dei-lhe umas roupas e sapatos do meu filho e fomos comer caracóis ao café do Tridente. Estava a dar futebol e ficou a ver todo feliz. Foi no dia um de Maio. Há mais de 20 anos que sempre que o encontro falo com ele e ajudo”, comentou Eulália Casimiro.
Anónimos e instituições ajudam diariamente o Fernandinho
No entanto, não são só anónimos que tentam fazer algo por Fernando Afonso. Instituições como o Centro de Apoio aos Sem-Abrigo (CASA), a Casa da Paróquia de São Pedro, o MAPS e a Santa Casa da Misericórdia também já o tentaram ajudar. “O Fernandinho ia sempre buscar algo para comer ao CASA, à sua maneira e sempre foi respeitado nesse sentido, ia tomar banho, fazia inclusivamente a barba sozinho mas, à sua maneira. Chegou a ser convidado para passar o Natal em casa de colaboradores mas… o Fernandinho tinha outras opções”, desabafou Isabel Cebola na rede social.
Fernandinho já foi várias vezes internado, mas nenhuma com sucesso. “Já o internei para desintoxicação duas vezes, uma em Marim e outra em Beja. Em ambas as vezes tive de o ir buscar pois recusou-se a ficar mais do que uns tempos. Numa outra vez, levei-o para uma quinta de equitação em São Bras, onde ele pudesse ficar em regime aberto e em contacto com os animais e plantas. Mas ficou somente cerca de mês e meio pois acabou por algumas vezes “fugir” e vir a pé para Faro. O último internamento foi em Outubro do ano transacto em virtude de um atropelamento grave que sofreu. Do hospital passou para a CASO, onde esteve 90 dias e onde foi muito bem tratado, devo dizê-lo. Mas, a mando da lei, foi obrigado a ser transferido para outro lar, o da RUA, pois todas as entidades em que bati à porta não me apresentaram nenhuma solução, mesmo que fosse provisória”, disse Sandra Matinhos, que acompanha o caso há 5 anos.
“Somos um povo pobre, mas se não ajudarmos os Fernandinhos que sofrem diariamente. Se nos esquecermos dos nossos, especialmente dos mais frágeis e débeis, seremos profundamente miseráveis”, remata Jorge Leitão ao concluir o seu texto.
Pode ler-se toda a publicação aqui.
(Eunice Silva / Henrique Dias Freire)
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