O Centro de Investigação em Biomedicina (CBMR) da Universidade do Algarve volta a estar na vanguarda dos avanços no que toca à investigação científica ligada à oncologia. Desta vez Inês Faleiro e um grupo de investigadores deram um passo importante no que toca à detecção precoce e mesmo ao prognóstico do cancro do pâncreas, um dos mais difíceis de detectar e tratar.
O cancro do pâncreas é um dos cancros de mais difícil detecção e diagnóstico sendo que em cerca de 65% dos casos o cancro do pâncreas apresenta-se sobre a forma de estádio IV (o mais grave), em 21% dos casos no estádio III, e apenas em 14% do casos o estádio é I ou II.
Recorde-se que o cancro do pâncreas só actualmente confirmável em definitivo através da análise microscópica das células do pâncreas pela anatomia patológica e em muitos casos a sintomatologia que pode ser facilmente confundida com outras patologias em nada ajuda à detecção precoce da doença.
O avanço alcançado pelo CBRM da UAlg
Publicado agora na revista científica Future Oncology o artigo dos investigadores do CBRM da UAlg revela a descoberta de um novo biomarcador que permite detetar precocemente o cancro do pâncreas.
De acordo com a nota de imprensa da UAlg, “os cientistas descobriram que há um gene que que está envolvido no processo de desenvolvimento e progressão da doença e que pode ajudar no diagnóstico e prognóstico do cancro do pâncreas”.
A investigação, levada a cabo pelo grupo de Epigenética e Doença Humana do CBMR, mostra, assim, que “a metilação do THOR, uma região específica do gene da telomerase, que tem a particularidade de estar sempre “activo” em casos de cancro, permite detetar a doença numa fase em que esta ainda não pode ser detetada a “olho” quando vista ao microscópio”.
A UAlg refere ainda que “o potencial da descoberta deste novo biomarcador vai ainda além das possibilidades de diagnóstico uma vez que, sendo mensurável em termos de percentagem, a análise dos níveis de metilação do THOR oferece aos investigadores importantes dados de prognóstico para compreender, em cada paciente, qual o estádio de evolução da doença e, inclusivamente, o seu grau de agressividade”.
Esta descoberta revela que pacientes com elevados níveis de metilação do THOR apresentam tempos de sobrevivência inferiores e, pelo contrário, pacientes com baixos níveis de metilação do THOR parecem apresentar melhores perspectivas de tratamento.
“Sendo o cancro do pâncreas um dos cancros que apresenta maior taxa de mortalidade devido a um diagnóstico tardio, esta descoberta ganha especial importância se pensarmos que pode, a longo prazo e se implementada na área clínica, contribuir para uma deteção mais rápida da doença, possibilitando maior eficácia em termos de tratamento e podendo vir a permitir, no futuro, contrariar as decepcionantes taxas de sobrevivência neste tipo de cancro”.
Em média surgem 500 novos casos da doença anualmente no nosso país
Note-se que todos os anos surgem cerca de 500 casos novos de cancro do pâncreas no nosso país sendo este o terceiro mais frequente do tubo digestivo em Portugal.
A nível mundial a maior parte dos casos de cancro do pâncreas ocorre entre os 35 e os 70 anos, com o pico da incidência no grupo etário entre os 55 e 74 anos, afectando da mesma forma homens e mulheres.